A união entre o setor público e o privado está colocando Alagoas na vanguarda de uma pauta estratégica: o reúso de água para abastecimento industrial. Em um momento em que a crise hídrica desafia governos e empresas, o estado articula uma parceria inédita para transformar efluentes — antes descartados — em solução sustentável.
Foi com esse espírito de cooperação que a Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (Fiea) promoveu, nesta quarta-feira (23), um encontro decisivo no Observatório da Indústria. A pauta foi a próxima fase do estudo “Reúso de Efluentes para Abastecimento Industrial: Avaliação de Oferta e da Demanda no Estado de Alagoas”, lançado em março pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Fiea e Governo de Alagoas.
Estiveram presentes representantes da BRK Ambiental, Casal, Arsal, Semarh, Banco do Nordeste e outras instituições estratégicas. O objetivo comum: sair do campo das ideias e colocar em prática medidas que aproveitem o potencial do reúso de água para atender à indústria, reduzindo a pressão sobre os mananciais e enfrentando, de forma colaborativa, os desafios da escassez hídrica.
“Alagoas foi o primeiro estado do Brasil a avançar nesse modelo. O nome do estado remete às suas lagoas, e é essencial que a população se aproprie dessa riqueza hídrica. A articulação aqui foi inédita. Temos todos os atores-chave trabalhando juntos, o que me dá muita esperança”, afirmou Maria do Socorro Lima Castello Branco, especialista em Políticas e Indústria da CNI.
A articulação tem se mostrado eficaz, e o projeto já conquistou avanços importantes. Com o apoio da CNI, o reúso de efluentes passou a ser prioridade no Fundo Clima — um programa federal que apoia financeiramente ações voltadas à sustentabilidade. Segundo o assessor técnico da Fiea, Júlio Zorzal, esse passo viabiliza projetos de médio e longo prazo. “Nosso objetivo agora é operacionalizar o estudo, apresentando-o às principais empresas e instituições envolvidas”, disse.
O vice-presidente da Fiea, José da Silva Nogueira Filho, reforçou a urgência de transformar esse trabalho conjunto em ações concretas: “Esse projeto mostra onde é possível utilizar a água de reúso, especialmente em regiões com dificuldade de captação, como o Sertão. O mais importante agora é manter a integração e acompanhar o desenvolvimento dessas ações”.
Empresas operadoras do saneamento, como a BRK Alagoas, também enxergam no projeto uma oportunidade de inovação com impacto social. “É uma solução que traz benefícios para todos: ajuda a população a lidar com a escassez e oferece à indústria uma fonte de água adequada às suas necessidades a um custo inferior ao da água potável”, explicou Wilson Luiz Bombo Junior, diretor operacional da concessionária.
Apesar dos avanços, ainda há desafios regulatórios. “Ainda não há uma regulação específica para o reúso de efluentes, mas ao unirmos forças, o caminho se encurta. Esse projeto é importante para toda a sociedade”, afirmou a diretora-presidente da Arsal, Camilla da Silva Ferraz.
A força dessa parceria intersetorial mostra que, com diálogo e comprometimento, é possível transformar um desafio ambiental em motor de desenvolvimento sustentável. Alagoas prova que o futuro da água passa por cooperação — e começa agora.
O estudo completo está disponível em fiea.com.br.