A guerra tarifária entre Estados Unidos e China ganhou novos capítulos nas últimas semanas e, além de abalar os mercados financeiros, promete afetar diretamente o comércio global, especialmente no Brasil. Com as tarifas impostas pelo governo americano, os produtos chineses tendem a buscar novos destinos, e o mercado brasileiro surge como um dos principais alvos.
Segundo Vitor Moura, fundador da consultoria Lantau Business Answers e especialista da rede Observa China, as medidas do governo Trump apenas aceleram um movimento já em curso: a internacionalização das empresas chinesas, que têm investido cada vez mais na conquista de novos mercados. “O Brasil chama atenção por seu tamanho continental, grande demanda interna e uma população de mais de 200 milhões de pessoas”, afirma Moura.
O cenário econômico da China, ainda em recuperação após a pandemia de Covid-19, contribui para o avanço desse processo. Com o consumo interno abaixo do esperado e as exportações impactadas pelas novas tarifas americanas, empresas chinesas, especialmente de médio porte, voltam seus olhos para o Brasil, trazendo produtos finais com maior valor agregado, como veículos elétricos, equipamentos de energia renovável e soluções de inteligência artificial.
Oportunidade ou ameaça?
Apesar da expansão ser vista como inevitável, especialistas alertam que o Brasil precisa se preparar para lidar com os impactos. Jesse Guimarães, vice-presidente da Associação de Empresas Brasileiras na China (Bracham), defende que o país adote medidas que promovam a inovação e protejam a indústria nacional.
“É preciso garantir que a entrada dessas empresas traga também benefícios estruturais para o Brasil, como a transferência de tecnologia. Não podemos repetir erros do passado, aceitando investimentos estrangeiros sem exigir contrapartidas”, alerta Guimarães.
A preocupação central está na dificuldade de a indústria brasileira competir com o modelo chinês, que se baseia em custos de produção reduzidos e elevada produtividade. Segundo os especialistas, essa diferença pode fragilizar as empresas locais, que ainda enfrentam desafios em inovação, infraestrutura e competitividade.
A resposta brasileira
Entre as alternativas apontadas, está a necessidade de estabelecer cláusulas em contratos com empresas estrangeiras, exigindo o compartilhamento de conhecimento e tecnologia com o Brasil. A ideia é que os investimentos externos não apenas gerem empregos, mas também deixem um legado para o desenvolvimento do país.
Além disso, Guimarães defende a ampliação das parcerias comerciais com países estratégicos, como a Índia, por sua neutralidade política, e o Egito, por sua expertise em fertilizantes, fundamentais para o agronegócio brasileiro.
Com o aumento de custos internacionais provocado pela guerra tarifária, especialistas alertam para a possibilidade de inflação global. Nesse contexto, o fortalecimento da produção interna e a diversificação de parcerias são apontados como caminhos essenciais para preservar a economia brasileira.
A chegada de produtos chineses ao Brasil, portanto, representa tanto um desafio quanto uma oportunidade: se bem administrada, pode impulsionar inovação e crescimento; caso contrário, pode aprofundar a dependência externa e pressionar ainda mais a indústria nacional.